Tire essa sua ideia do papel

JB

Jean Bauer / November 07, 2020

8 min read

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Intro#

Uma amiga minha, após muito tempo sem nos falarmos, me enviou uma série de mensagens há uns dias atrás.

Minha primeira reação foi achar que tentariam me por em algum esquema de pirâmide, estava errado, felizmente.

Ela viria a me contar sobre o negócio que recém abrira.

Em apenas 8 dias o projeto dela já fez 1200 euros.

Alguns detalhes deste projeto:

  1. Esta pessoa precisou fazer um processo X e se deparou com um problema no processo.
  2. Em um código "simples" feito em algumas horas ela conseguiu resolver este problema.
  3. Ela observou que outras pessoas poderiam sofrer com este mesmo problema e provou esta hipótese.
  4. Por fim, ela confirmou que outras pessoas estariam dispostas a pagar por tal ideia.

Tudo isso em um intervalo curto de, talvez, 1 (um) dia.

Neste texto vou contar uma experiência minha e, embora com finalidades diferentes, relacionar com este exemplo e fazer algumas reflexões acerca.

Importante dizer#

Este não é um texto de coach (talvez de fracasso). Eu já tirei várias ideias do papel e nunca ganhei 1 real com elas, então talvez isso invalide este texto para um certo tipo de audiência. Se você não se importa com isso (ufa), vá em frente pois vou contar uma breve experiência que tive.

A Ideia 💡#

Há uns anos atrás participei de um hackathon social (sem vencedores e loucuras de eventos puramente corporativos) voltado somente a fazer boas ações para projetos de Porto Alegre e região.

Meu time estava encarregado de pensar em uma solução para aumentar as visitas a um lar (asilo) comunitário, diminuindo a ociosidade e solidão de idosos.

Poucos meses antes deste Hackathon eu havia tido a ideia de fazer algo nessa mesma proposta. O Hackathon então caiu como uma luva para eu me conectar com pessoas alinhadas em resolver aquele problema.

🕒   Hackathon, 1a hora: Converso com meu time, explico a todos que minha ideia seria um site para apresentar idosos a voluntários que querem ir visitar estas pessoas. Algo como uma página para cada lar e dentro dos lares poderia ser visto todos os residentes, cada residente contando um pouco mais da sua história e com uma lista de necessidades ou presentes que desejava receber.

Aqui friso que nosso parceiro era um lar comunitário, a maioria dos idosos lá foram abandonados pela familia que não envia dinheiro tampouco os visita.

Minha hipótese em propor uma solução assim era que as pessoas (eu, você, todos) só não frequentam estes lares e asilos por não terem conhecimento da situação, como começar, o que é esperado, etc. Eu queria aumentar o número de visitantes e voluntários com a apresentação dos lares, residentes e detalhes da vida de cada um.

Imagem do site: Imagem do site:

Primeiras horas e planejamento#

No auge da minha ignorância e inocência acerca de planejamento de produto (que adquiri lendo somente Lean Startup), sugeri ao time fazermos uma sessão para priorizar o que faríamos nas próximas 47h de projeto.

Papo vai, post-it vem: Terminamos a priorização!   🎉

Se me recordo bem, nosso plano era algo como:

  • 1 dev iria trabalhar na API que iria salvar os lares, residentes e agendamentos de visita no banco de dados.
  • 1 dev iria trabalhar na página de lar no frontend com 1 desginer
  • 1 dev iria trabalhar na página do residente do lar com 1 designer
  • 2 pessoas de marketing estavam criando uma estratégia para divulgação com 1 desginer

Neste plano, organizamos tarefas de uma maneira que ninguém ficaria bloqueado e pudessemos apenas trabalhar.

Até ai tudo bem#

Estávamos orgulhosos e cheios de energia. Foi ai que vi um amigo, andando de grupo em grupo dando conselhos, e pedi para que ele revisasse nosso plano.

Um dos dias que mais aprendi sobre MVP foi quando esse meu amigo sentou com meu time e bateu um papo sobre nosso escopo.

Ele olhou para nosso quadro cheio de post-its coloridos com tarefas e leu uma por uma repetindo a pergunta: "A gente precisa disso mesmo pra primeira versão? Isso é necessário para as próximas 48h?"

A primeira reação do time foi algo como: "Claro, sim! Como não?! Banco de dados, importantíssimo!!11" seguido de protestos e raxa no vestiário.

Aprensentamos pra ele um plano "enxuto" e que, na nossa visão, traria valor a proposta.

A verdade é que em algum momento, provavelmente essas tarefas teriam que ser feitas pelo nosso time, mas o que aprendemos ali foi que o momento não era de fazer uma solução completa, o nosso problema não demandava isso, não sabíamos nem se a tal ideia daria certo.

Papo vai, aprendizado vem, post-it sai, post-it vem: Chegamos no nosso novo plano enxuto para as próximas 46h!   🎉

46h Depois#

Ao fim do evento apresentamos o resultado, um site que:

  • permitia a visualização das páginas do lar/residentes   🏠
  • permitia agendar uma visita a um vovô/vovó específico   👵
  • possibilitava a pessoa ver o que cada idoso precisava/gostava   🎁
    • (ex.: tal vovó gostava de danoninho então a gente mostrava isso para quem fosse visitar levar esse presentinho)
  • mostrava o que o lar precisava (doação de telhas, papel higiênico, etc...)   🛒

Embora já se tenha passado um bom tempo, ainda lembro da energia que ficamos ao terminar. Foi incrível!

Dias depois (aqui vem a parte ruim)#

Por diversos motivos o site não foi ao ar.

Problemas de comunicação, orientação do projeto, planejamento, etc.

Meses passaram e o time foi desistindo aos poucos. Compreensível.

Anos depois#

Tentei reviver o projeto, juntando aprendizados da primeira tentativa e: falhei de novo (em outra hackathon, inclusive).

O que fiz de diferente desta vez foi: Busquei outros 2 lares para fazer essa parceria e tentar começar.

Ambos eram geridos por voluntários que já não tinham tanto tempo livre. A aplicação demandava que os diretores de lares cadastrassem todos os idosos em páginas de cadastro ou até mesmo um arquivo excel que eu mais tarde transformaria como insumo para o banco de dados.

Era muito burocrático, quase que não era uma solução para os lares, era outro problema!

Reflexões e o que eu faria diferente hoje#

Comparando o exemplo da introdução e essas minhas experiências eu percebo que por mais que eu tenha consumido muito conteúdo acerca deste tópico, eu falhei em coisas básicas como comprovar minha hipótese de que as pessoas não visitam esses lares de idosos por falta de conhecimento.

Falhei em não ter contato direto com o Lar e entendido as reais necessidades, a última vez que havia estado em um lar fazia anos, estava totalmente enviesado pela minha experiência.

Falhei em ter elaborado um plano demasiado grande para comprovar que a ferramenta criada poderia ser útil.

Ok, e hoje? Como eu faria?

  • Tentaria fazer pesquisas rápidas nas redes sociais para entender o comportamento de quem gostaria de ajudar os lares e os idosos.
  • Permitira que o lar recebesse agendamento de visita através de um formulário do Google, sem nenhuma linha de código.
    • Acompanharia os números do formulário e entraria em contato com as pessoas voluntárias e visitantes.
  • Visitaria os lares e coletaria informações necessárias para eu mesmo criar material necessário para divulgação, sem sobrecarregar os voluntários.

Você pode estar lendo e pensando "Óbvio! Como ele não pensou nisso antes?"

Esse foi exatamente o motivo para eu ter escrito este texto.

Para que mais pessoas desconstruam um pouco o pensamento de "estar pronto" para resolver o problema.

Sua aplicação só é algo que está entre uma pessoa e um problema. Se ela tivesse opção, nem estaria usando.

Fim.

(Extra 1) Quer fazer um projeto para ajudar lares e residentes?#

Conta comigo, adoraria ajudar de alguma maneira.

(Extra 2) Como eu tirei este post do papel#

Se eu tivesse a mesma mentalidade da 1a e 2a vez que falhei neste projeto em relação a este texto... eu provavelmente nunca teria terminado, e você não estaria lendo.

Separei +-5h para ler e escrever, não me importei se tivesse "mal" escrito, enviei para alguns amigos próximos para obter a aprovação que não estou falando bobagem e publiquei.

Achei interessante um artigo que o título era: "Se não houver nenhum erro de digitação neste artigo, o lançamos tarde demais!"

Se não tem nenhum erro de digitação aqui, provavelmente eu me preocupei mais que deveria.

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